jueves, 15 de marzo de 2007

OS VÍCIOS E DESVIOS POLÍTICO-ORGANIZATIVOS: ORIGENS, IMPLICAÇÕES E MECANISMOS PARA COMBATÊ-LOS


“Um violonista toca sozinho, mas uma orquestra precisa de maestro”.

Introdução

Alguns militantes poderão dizer: “de novo os vícios”? Isso eu já estudei no “primário”, isto é, a muito tempo, ainda na época da Escola Sindical. Pois bem, “de novo os vícios” porque como disse Mao Tse Tung, a gente deve varrer o chão e lavar o rosto todos os dias, pois, se não fizermos isso, a poeira se acumula.
Essa reflexão é extremamente vigente e atual porque está ligada à implementação da revolução cultural e do salto qualitativo em termos orgânicos do nosso movimento. É portanto uma necessidade histórica, pois, ainda é tempo de ir corrigindo falhas, identificando erros individuais e coletivos, observando desvios na prática dos militantes e dirigentes e, buscar elaborar e implementar métodos de trabalho e direção que superem essas deficiências e signifiquem avanço político da organização.
Objetiva-se com esse subsídio, despertar a preocupação permanente que precisamos ter em relação aos vícios e desvios políticos. Refletir sobre nossa prática, sobre nosso comportamento na organização, buscando entender o que significa dirigir e ser dirigido. Em que momento estamos e como nos colocamos nessa organização? O que significa fazer parte e ajudar a construir uma organização como o MST? Porque temos dificuldades, deficiências na formação e reprodução de militantes? Dificuldades em elaborar e implementar métodos de trabalho, com divisão de tarefas? Enfim, uma série de deficiências que percebemos mas as toleramos, quando deveríamos tratar de superá-las.
Por isso, a importância de buscar entender o que são os vícios, quais suas origens, como e quando se manifestam e, acima de tudo, discutir mecanismos de como superá-los, para que possamos “moldar” os dirigentes e militantes, de maneira que a organização se desenvolva no rumo certo, em direção à vitória.

1. O que são os vícios e desvios
Existem muitas maneiras de explicar e entender essa temática, mesmo porque, o assunto não é novidade para a grande maioria da militância que está no Movimento, uma vez que tem sido objeto de estudo na maioria de nossos cursos de formação. No entanto, eles continuam muito presentes na nossa prática, dando a impressão que temos evoluído pouco na superação dos mesmos. Por isso, nossa preocupação é proporcionar pistas, formas de entendê-los para superá-los, já que temos essa possibilidade e necessidade urge.
Em sentido geral, pode-se dizer que o vício é uma postura, uma prática,um comportamento ideológico e político, que se opõe à virtude. Entende-se por virtude aquelas qualidades positivas que uma pessoa possui, adquire e as desenvolve como uma força ou potência que impulsiona e beneficia um grupo, uma organização coletiva. Ao contrário, o vício é uma deficiência, que possuímos ou desenvolvemos, uma falha que herdamos, reproduzimos e transmitimos, um aspecto negativo que atrapalha, que dificulta o avanço da organização coletiva. É uma deficiência que prejudica o bom funcionamento da organização, que destrói, corrompe a vida da organização, entendida esta como um organismo vivo, que funciona.
Se numa coletividade, os vícios são mais fortes que as virtudes, a consequência natural será a mudança de rumo. Será desviada, corrompida e destruída por si mesma. Jamais portanto, conseguirá atingir os objetivos que pretendia alcançar. A própria história, infelizmente, já nos demonstrou isso com destinos trágicos de algumas organizações pretensamente revolucionárias, combativas e de luta.
Podemos dizer portanto, que os vícios são desvios, defeitos, deficiências políticas organizativas, e de conduta moral, que vão se formando na consciência individual e utilizam nossas ações, nosso corpo para se manifestarem. Estão presentes em nossa forma de agir, de pensar, de se relacionar, na maneira de dirigir um coletivo, de atuar numa organização e afetam principalmente a Unidade e a Disciplina dessa organização coletiva.
Eles se parecem com o “cupim” que se instala no interior de uma madeira. No princípio não o percebemos, mas ele vai corroendo o interior da madeira e, quando nos damos conta a peça está corroída, sem condições de uso, poderá desabar sobre nossas cabeças. Deve ser destruída e substituída por outra. Isso causa prejuízo e se fosse detectada a ação dos “cupins”, daria tempo para eliminá-los pela raíz e conservar a madeira.
Outro exemplo ilustrativo é o seguinte: quando varremos o chão, nos cantos, ali onde a vassoura não passa, a poeira não desaparece, pelo contrário, vai se acumulando sempre mais. Por isso, para manter tudo limpo, é necessário passar a vassoura em toda a superfície, remover os obstáculos e limpar tudo. Se parecem ainda, com manchas pequenas que aparecem em nosso corpo, se não tratamos de diagnosticar e buscar a cura, ela se desenvolve desfigurando todo o corpo.
Com os vícios é assim, se não tivermos o cuidado de identificá-los, de entendê-los e se não estivermos dispostos a removê-los, eles vão se acumulando, se desenvolvendo e causando prejuízos enormes para o indivíduo, para os outros e para a organização, até o ponto em que será necessário dispensar o militante, o dirigente e substituí-lo por outro para “salvar” a organização e isto nem sempre é pacífico.
Já dizia Mao Tse Tung: “A batalha mais difícil é aquela que devemos travar contra nós mesmos”, pois sabia o quão difícil era controlar as “tentações”, os vícios da antiga sociedade que se alojam na consciência, e estão ali, esperando a hora para se manifestar, eles não perdem a oportunidade. A questão é que não podemos lhes dar essa oportunidade.
Além disso, a batalha é difícil porque precisamos desenvolver a disposição em controlá-los e renunciá-los sempre que surgir a sua manifestação e, em seu lugar desenvolver novas virtudes. É um processo de desconstrução e construção ao mesmo tempo.
Não somos culpados de os ter, pois, por vezes se manifestam inconscientemente, quando percebemos já cometemos o erro, ou, podemos nem perceber pois somos produtos de uma determinada ordem social, somos resultado do sistema capitalista e trazemos conosco toda a carga de valores negativos em nossa consciência. No entanto, somos responsáveis para identificá-los e extirpá-los de nosso meio, de nossa consciência e de nossas ações, pois temos virtudes e qualidades a desenvolver, do contrário, estaremos fadados ao fracasso.

2. Suas Origens
Devemos buscar a origem desses vícios, na convivência social, no modo como produzimos e reproduzimos nossa existência e na visão que as pessoas possuem da sociedade em que vivem. Estão condicionados ao modo como participamos dos processos produtivos, qual seu grau de desenvolvimento e nível de divisão técnica do trabalho, pois, a maneira como produzimos nossa existência determina, em grande medida, a nossa forma de pensar e agir numa determinada organização.
Para elucidar melhor essa questão, vejamos algumas explicações que Marx, formulou sobre o assunto:

“Não se parte daquilo que os homens dizem, imaginam ou representam e tampouco dos homens pensados, imaginados e representados para, a partir daí, chegar aos homens de carne e osso; parte-se dos homens realmente ativos e, a partir de seu processo de vida real, expõe-se também o desenvolvimento dos reflexos ideológicos e dos ecos desse processo de vida [...] O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, político e intelectual em geral. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; pelo contrário, seu ser social é que determina a sua consciência [...] Tal como os indivíduos manifestam sua vida, assim são eles. O que eles são coincidem, portanto, com sua produção, tanto com o que produzem, como com o modo como produzem. O que os indivíduos são, portanto, depende das condições materiais de sua produção”( Marx).

Para entender nós mesmos e as pessoas que participam da nossa organização, necessariamente precisamos observar a sua trajetória de vida, ou melhor, as condições de produção material da sua existência, pois estas condições determinam e desenvolvem os reflexos ideológicos, o nível intelectual e a consciência social de maneira geral.
Tomamos como ponto de partida o indivíduo real, de carne e osso. Essa pessoa é um ser com dupla existência, isto é, traz uma carga individual (como ser único, resultado de uma experiência que somente ele viveu) e, uma bagagem como membro de uma comunidade, integrante de um processo produtivo determinado, portanto, fruto de um meio social.
Nesse sentido, o indivíduo é algo não acabado, está em constante realização, num processo permanente de construção sócio-histórico (passado, presente e futuro), pois, se produz a si mesmo por intermédio das relações que estabelece com a natureza e das relações que são estabelecidas em sociedade, tanto aquelas por ele já encontrada, como as produzidas por sua própria ação. Produtos, portanto de uma determinada ordem social.
Esta, por sua vez, é produto da ação humana desenvolvida historicamente, ou seja, de nossos antepassados e de nós mesmos, como resultado de uma progressiva ação humana.
Portanto, se nós somos produzidos historicamente, somos resultado de uma determinada ordem social e esta, por sua vez, é produto da ação humana, necessariamente temos a faculdade, a potencialidade e as possibilidades de forjar novas pessoas e uma nova ordem social, de forma dialética possuindo como ponto de partida a base material.
Em resumo, podemos dizer que os desvios, vícios do passado se reproduzem na consciência individual dando corpo a um determinado Comportamento Ideológico (um complexo de valores culturais, morais e políticos que condicionam uma visão de sociedade, da natureza, do homem, e de mundo, etc), que se manifestam em nossas ações concretas, de âmbito individual e coletivo, quando participamos de uma organização coletiva.
Por isso, ocorrem contradições entre o comportamento dos indivíduos e as estruturas organizativas propostas, o que dificulta o avanço da organização. Explicando melhor: temos por definição a implementação dos princípios organizativos (divisão de tarefas, centralismo democrático, crítica e autocrítica, planejamento, disciplina, direção coletiva, estudo, profissionalismo, etc.), mas na prática os militantes não conseguem implementá-los de maneira eficiente, por causa dos vícios e desvios herdados do processo de produção e reprodução de sua existência. Até aí é natural mas, se essas contradições não forem resolvidas no sentido do crescimento dos indivíduos em relação à superação e implementação das virtudes, a organização enfraquece, emperra ou, pode se desviar do caminho e dos objetivos a que se propõe alcançar. Vejamos portanto o quão importante e urgente é a mudança de nossa práxis, enquanto ainda existe tempo.

3. Alguns exemplos e como se manifestam
É mister para o MST, ir desenhando a sociedade do futuro, pela qual luta e busca edificar, pois, ao projetar a nova sociedade, terá que pensar e propor um tipo de organização e de pessoas capazes de edificá-la (a nova sociedade). Para tanto, é necessário levar até o fim um processo revolucionário que modifique profundamente as estruturas econômicas e políticas da sociedade, transformando radicalmente a realidade e as pessoas. Daí a necessidade de impulsionarmos a Revolução Cultural – que transforma as pessoas – e a Revolução Política – que transforma as estruturas econômicas e políticas da sociedade.
Nesses anos de luta e trabalho árduo, nos desenvolvemos e crescemos, nos tornamos uma força social e política, nos transformamos num grande movimento de luta pela terra e pela reforma agrária. Mas isso não basta, pois, a realidade ainda está por transformar.
Apresentamos e carregamos muitas deficiências, limitações que não conseguimos superar e que por vezes, imperram o avanço qualitativo do Movimento - já enumeradas em outros momentos, mas importante para nossa reflexão - como por exemplo:
a) Nossas reivindicações continuam sendo de curto alcance, de caráter marcadamente econômico X O nível da consciência política dos nossos militante e da nossa base: Como se dá o processo de formação da consciência de classe?
b) A realidade socio-econômica-cultural e política deste final de século nos traz novas questões, novos desafios que ainda não dominamos totalmente X Dificuldade de estudar a ciência, se apossar do instrumental de análise científica, para interpretação e transformação da realidade: Qual o nível teórico da nossa militância e dirigentes, é alto ou baixo?
c) Funcionamos até bem enquanto Movimento de Massa, que mobiliza, desenvolve lutas radicais, de caráter nacional, que força o governo a ceder determinadas migalhas X Os desvios e vícios políticos organizativos que reproduzimos em nossa prática imperram o salto de qualidade para uma Organização de Massas, já que não estamos conseguindo combatê-los, continuam prejudicando a organização: Por que continuamos reproduzindo os vícios procedentes das formas artesanais de trabalho apesar dos estudos já realizados?;
d) Temos definidos com clareza nossos princípios organizativos (divisão de tarefas, crítica e autocrítica, direção coletiva, centralismo democrático, disciplina consciente, etc...) X Apresentamos muitos problemas de Método de Trabalho e de Direção. Aqui talvez residam os nossos grandes desafios: como entender, identificar e perceber os danos que estes trazem para a organização e, como garantir a sua implementação na prática?

Não vamos aqui, fazer referência concreta à manifestação de cada vício e/ou desvio em particular, pois, estaríamos sujeitos a cometer injustiças, não porque não existam manifestações concretas, mas, porque talvez deixaríamos de fora situações tão relevantes quanto as citadas, de maneira, que cada formador possa identificar as manifestações em seus estados e instâncias da organização da qual participa, como maneira de entendê-los.

3.1. Percebemos muitos vícios de caráter oportunista, que nada mais é do que o reflexo de uma sub-ideologia provocada pela propriedade privada dos meios de produção:
a) Individualismo: É um inimigo poderoso se não for controlado, combatido e extirpado. Por mais que de a impressão que estamos superando esse desvio, ele está sempre disposto a se manifestar, esperando o momento certo para entrar em cena e se desenvolver. Para tranquilizar alguns, extirpar o individualismo não significa destruir o “indivíduo” nem o interesse, habilidades e ansiedades pessoais, pois, cada um possui uma personalidade, qualidades, deficiências, vida familiar, etc., que se não estiverem em contradição com os interesses coletivos, devem ser respeitados. Mas, é sempre bom lembrar e praticar a lição do Mestre: “O interesse pessoal de cada um só pode ser satisfeito quando o interesse coletivo estiver assegurado”. O individualista tem dificuldade de entender o funcionamento da organização, age por conta própria e coloca a pessoa (indivíduo) acima do coletivo. Também, detesta o planejamento pois nele deve estar embutido a divisão de tarefas e o individualista gosta de agir sozinho, por isso dificilmente forja novos militantes.
b) Espontaneismo: Não gosta de planejar, quando o faz é apenas para atender a uma obrigação e preencher um papel, porque depois, se guia pela conjuntura e por seus interesses e não pelo que havia sido planejado. É comum fazermos planos dos setores nos encontros estaduais, por exemplo, no final ou início de ano; com o passar do tempo e as mudanças na conjuntura, nas lutas que o movimento desenvolve, esses planos são esquecidos e atua-se, como dizem: “no rolo”. Por não planejar, vive sempre o imediato e isso é amplamente prejudicial ao desenvolvimento da organização.
c) Personalismo: Mesmo que as conquistas forem do coletivo, frutos da luta, ele atribui a sí os resultados – “eu consegui”. Se considera o dono da verdade, sabedor de tudo. Gosta de aparecer e ser importante, quer ser notícia, que os outros falem dele, por isso, gosta de estar em tudo, ser consultado sobre todos os aspectos. Daí, a necessidade de usar telefone celular, veículo, dar entrevistas, etc. Gosta de fazer aquilo que dá ibope, status, satisfação pessoal. Sua pessoa é maior do que a organização da qual faz parte. Cuida mais de sua pessoa do que do trabalho que precisa desenvolver na organização. Centraliza tarefas, responsabilidades e informações, isto é, poder, nem que para isso tenha que excluir companheiros. Essa prática não forma novos militantes, não dá e não cria oportunidade para os outros, quando dá um problema que tem de se afastar, a organização fica “sem cabeça”. Mas, como o movimento cresce, vão surgindo outras pessoas, lideranças e dirigentes, fazendo com que o personalista vá ficando de lado. Daí, para não perder a posição, seu prestígio, apela para o “grupismo”.
d) Anarquismo: O anarquista é um militante desorganizado, reclama quando vê as atividades, locais bem organizados, acha que é burocratismo. Quando lida com dinheiro não sabe onde gastou, perde notas e na hora de prestar contas sempre tem problemas e se irrita com as pessoas que cobram. Quando utiliza um veículo, pode estar caindo os pedaços, de destruindo que deixa tudo bagunçado. Quando coordena uma reunião, esta vira uma bagunça, não consegue encaminhar nada, não organiza as falas, não consegue dirigir a reunião. Quando dirige um setor ou uma regional, cada militante faz do seu jeito pois, não consegue estabelecer e seguir um plano de trabalho. Satisfaz o seu oportunismo em meio a confusão. Essa prática é extremamente prejudicial pois descaracteriza a organização, não forma, não constrói.
e) Sectarismo: É uma manifestação do subjetivismo/oportunista no domínio da organização. Acontece quando os militantes vêm apenas a parte e não o todo, acentuam a importância do setor que atuam em detrimento dos interesses e necessidades do todo da organização. Não entendem e não implementam o princípio do Centralismo Democrático, onde a minoria deve submeter-se à maioria; os escalões inferiores aos superiores e as partes ao todo. Entendem que as coisas devem ser feitas imediatamente, não importando se existe ou não condições para tanto. Têm dificuldade de discutir sobre suas posições, pois acham que as suas são sempre as melhores, mais corretas, infalíveis.
f) Comodismo/Imobilismo: Parece que existe uma tendência natural à acomodação. Alguns, por acharem que já deram a sua quota para o coletivo, outros, alegam cansaço, strees, etc. Para esse, do jeito que o movimento está, é o suficiente para não se preocupar, não enfrentar problemas, deficiências. Justamente porque, como disse Rosa Luxemburgo: “Quem não se movimenta não sente as cadeias que o prendem”. Sempre estão de acordo e evitam discordar para não se comprometer. Não falam os problemas nas reuniões mas ficam depois falando por fora. Não mostram, nem criticam os erros dos companheiros, para que não critiquem os seus. Se sente bem, quando no mesmo coletivo encontra um personalista, de maneira que um alimenta o outro.

3.2. Outros vícios são de caráter subjetivista, ou seja, um reflexo de uma sub-ideologia gerada pela visão idealista das formas artesanais de trabalho:
a) Amadorismo/aventureirismo: Caracteriza-se por agir sem consultar a realidade, nem consegue medir as consequências e os resultados que determinadas ações podem causar. Age de acordo com suas idéias, nunca planeja baseado na análise da realidade e nas condições objetivas, o faz, com base naquilo que pensa e acha ser correto. Pensa estar fazendo uma grande ação radical, revolucionária, quando na verdade é uma ação sem consequencias, isto é, sem ganhos políticos nem organizativos. Por vezes pagamos caro por essas atitudes. Geralmente acaba atuando isoladamente e, facilmente rompe a unidade da organização. É contrário ao estudo científico e a reflexão.
b) A Autosuficiência: É um desvio poderoso para destruir a organização, pois quem o incorpora considera ter o conhecimento, a força que não tem. Se acha satisfeito com seus feitos, com os resultados obtidos nas ações que coordena (curso, acampamento, mobilização..). É o tipo do militante que já fez um curso importante e aí, pensa que não precisa mais estudar. Fica utilizando alguns chavões e se considera o tal. Não busca se aprofundar, compreender as questões do seu tempo e quando vai disparar o tiro, não encontra o alvo, acaba atirando ao acaso, perdendo munição e terá como recompensa a derrota. Saibam que a auto-satisfação é inimiga do estudo e portanto, inimiga da organização. É o tipo de pessoa que tem resposta para tudo, não ignora nada, nunca tem dúvidas, mesmo não tendo conhecimento. Quando vai discutir, não escuta ninguém, não toma notas nas aulas nem nas reuniões, pensa que grava tudo na cabeça. Como não consegue gravar, acaba fazendo tudo de acordo com o que vem na cabeça. Nunca se preocupa com a precisão dos dados, calcula conforme sua própria intuição e oportunidade.

3.3. Temos também desvios de caráter mais interno, criados pela própria situação da organização, e motivamos pela prática dos anteriormente mencionados:
Vejamos:
a) É importante observarmos nossas posturas em relação a utilização do patrimônio, principalmente em relação aos veículos. Existem militantes que se não for de carro ou de moto para uma determinada atividade, não vai, simplesmente porque de ônibus gastam muito tempo, ou porque ir de carro é mais barato. Essas são justificativas para a utilização da comodidade. Mas, o mais grave disso tudo, tem sido a imprudência no trânsito. Bastaríamos observar o nº de militantes que já foram vitimados pelos equívocos nas estradas. Os acidentes, as mortes continuam acontecendo e não conseguimos mudar de atitude. O mesmo acontece com os dirigentes e/ou coordenadores de setores nacionais que começam a viajar de avião, logo, só podem ir para uma reunião nacional ou para algum estado distante, se for de avião porque gasta muito tempo de viagem e não pode ficar tantos dias fora do estado ou, porque possuem uma agenda muito cheia.
É pertinente a observação do Bogo quando disse: “Normalmente, quando o corpo resiste a sair de certas comodidades ou, reclama certas regalias, logo a cabeça busca explicações e justificativas para não ir; para deixar para depois; não posso ir porque estou com outra tarefa, etc. Aí está o “ninho” dos vícios.
b) O uso do telefone celular, é claro que é importante e tem ajudado em muitas situações. Assim como as viagens de avião e de carro também em alguns momentos são necessárias. Mas, isso não pode se transformar em status, privilégios e acomodações. Não podem mudar o método de trabalhar e dirigir a organização. Existem dirigentes que para dirigir o MST basta estar de posse de um carro e de um telefone celular, pois, podem estar em todas as atividades em assentamentos, acampamentos, negociações, etc. e, se comunicam com os militantes por telefone, dando orientações. Mas ao mesmo tempo não participam efetivamente de nada, nem dirigem organização alguma.
c) O computador é um instrumento extremamente importante, ágil e, por meio da internet pode-se comunicar, enviar notícias para as mais diversas partes do mundo simultaneamente. No entanto, em alguns lugares ao invés de ser um instrumento de trabalho, para elevar o nível e eficiência de nossa organização, tem se transformado num meio de diversão e lazer por intermédio do qual muitos militantes ficam durante horas navegando por sites eróticos, jogos e outros assuntos que não trazem nenhum proveito para sí e para a organização, a não ser o gasto com telefone.
d) Outra tentação e desvio tem sido os holofotes, para os quais muitos dirigentes gostam de estar voltados, adorando aparecer no jornal, na rádio, na televisão, pois se acham importantes, sendo famosos e conhecidos. Mais do que estar a serviço da organização, buscam satisfazer o ego pessoal, incentivando e desenvolvendo os vícios do personalismo, do “estrelismo” e do oportunismo, muito nocivos para a organização, pois, mais importante que as pessoas é a organização.
e) O uso da bebida alcoólica. Existem militantes que chegam a dizer que beber é cultural. O que pode fazer parte da nossa cultura é a cachaça mas, consumi-la em excesso é um vício que prejudica o corpo e a organização e não cultura. Qualquer bebida que contenha álcool, se consumida em excesso, ela prejudica a pessoa, os outros e a organização. Talvez não nos demos conta mas, ela torna o raciocínio lento, diminui os reflexos e, por vezes, se torna motivo de discórdias e intrigas nos acampamentos e assentamentos. São prejudiciais os males causados à saúde, pois, não faremos uma revolução com pessoas desequilibradas, viciadas e doentes. Seria bom prestar atenção também no cigarro, pois, os pulmões são órgãos fundamentais para o nosso organismo e o câncer ainda é uma desfio para ser curado.
f) Outro comportamento nocivo à organização são as “fofócas”. Existem pessoas que sentem prazer em colocar uns contra os outros; rebaixar certas pessoas que se sobressaem na postura correta, na disciplina, na eficiência, para manter o seu lugar. As queimações, calúnias, etc, são práticas que conseguem ir liquidando um coletivo para que alguns possam se manter no poder e ocupando os espaços que deveriam ser compartidos. Normalmente os fuxiqueiros são pessoas que não se preocupam com o desenvolvimento, com a grandeza das propostas e com o tamanho dos desafios da organização. Certamente existem outros exemplos de comportamentos nocivos à organização. É bom identifica-los para poder combater.
Por vezes, é mais fácil e menos exigente nos desfazer dos bens materiais como casa, terra, ajuda de custo, etc., mas não temos a capacidade de nos desfazermos daquelas coisas que satisfazem os interesses pessoais, como o status, o poder dos cargos, o conhecimento e acesso a informações, quando na verdade tudo o que possuímos e somos deve estar a serviço do coletivo, da organização.

4. Mecanismos que ajudam a superar os Vícios
Sabemos que nenhuma mudança acontece automaticamente na consciência dos indivíduos e, tampouco de forma mecânica. Toda mudança é resultado de um processo, de uma convivência social prolongada, da análise, estudo e conhecimento da problemática que se pretende enfrentar e, fundamentalmente dos mecanismos e ações conscientes implementados para superá-los.
O ponto de partida nesse processo é a base material, isto é, o meio social em que as pessoas estão submetidas, é a organização que poderá ir moldando, reeducando seus membros, numa relação dialética onde, se por um lado os indivíduos fazem a organização, por outro, são produtos dela, isto é, ao mesmo tempo que construímos a organização estamos sendo construídos por ela.
Com o intuito de contribuir com o crescimento dos militantes na organização, através da superação de vícios e desvios que atrapalham o seu desenvolvimento e da própria organização, elencamos alguns mecanismos que, se forem implementados, podem cumprir esse papel.
1º) É necessário admitir que temos deficiências e vícios organizativos alojados em nossa consciência individual e, em determinados momentos, se utilizam de nossas ações, de nosso discurso, de nossa postura de militantes para se manifestarem. Essa humildade e pré-disposição é condição sine qua non para qualquer processo de mudança, pois, o militante que se acha perfeito, sem vício algum, continuará se “atolando” sempre mais na sua auto-suficiência, causando prejuízos para o avanço da organização.
2º) Precisamos estudá-los para conhecê-los com profundidade, somente assim, poderemos estabelecer um conjunto de procedimentos que possibilitam a sua superação. É pertinente o ensinamento do Mao Tse Tung quando diz: “É preciso tratar a doença para salvar o doente”. Ou seja, devemos sempre acreditar nas possibilidades de crescimento das pessoas, na capacidade de recuperação e superação dos vícios, no seu “salvamento”. Para tanto, é necessário um diagnóstico profundo e correto (estudo), mas, mais que isso, é fundamental a disposição e o desejo de o “doente” ser tratado. Do contrário, os males se alastrarão chegando a um estado irreversível que é a “morte” - a morte do militante para a organização. Estudar para ir a raíz dos problemas, perguntando sempre o “por que” das coisas? Não ficar envolto na aparência, pois sempre é bom lembrar que o fenômeno mostra a essência e, ao mesmo tempo, a esconde. Estudar portanto, a ciência, a filosofia, se apropriar do instrumental marxista de análise e interpretação da realidade para desenvolver um práxis que visa a transformação dessa realidade.
3º) Adotar conscientemente o mecanismo da vigilância. Já dizia o profeta em uma passagem bíblica: “Vigiai e orai para não cairdes em tentação”. A vigilância consiste em prestar atenção e zelar pelo rígido cumprimento dos princípios organizativos em nossa prática cotidiana. É garantir a implementação das linhas políticas que orientam a prática da organização em todos os níveis.
A vigilância evita equívocos, não deixa ninguém inseguro quanto aos procedimentos políticos a serem adotados, porque analisa as situações e toma as posições orientado não por idéias de alguns, mas, pela linha política da organização. Por isso, é fundamental a atenção e perceber quando os vícios e desvios querem se manifestar e aí, reagir imediatamente contra eles.
A vigilância deve ser exercida sob os aspectos: ideológico, político, organizativo, ético/moral, etc. conjuntamente. Ou seja, de nada adianta ser radical do ponto de vista político e anárquico, personalista do ponto de vista organizativo. É preciso buscar a coerência nos diferentes aspectos.
4º) É fundamental estabelecer um processo de Crítica e Autocrítica corretamente. Existem instâncias que passam mais de um ano sem fazer uma avaliação de seus membros e de sua atuação enquanto conjunto. Devemos desconfiar dos dirigentes que temem a avaliação, isto é, nunca existe tempo na pauta para a avaliação. Aí, os problemas vão se acumulando, se alastrando e quando se dá conta já é tarde. Por isso, deve ser sistemática, regular e bem feita, a tempo de corrigir e evitar erros, pois, um erro do tamanho de uma polegada pode causar um desvio de metros.
A crítica e autocrítica são dois momentos de um mesmo processo avaliativo, que permite analisar, identificar as deficiências individuais e coletivas e, mais do que isso, ajuda os companheiros a buscar alternativas, apresenta pistas de superação dessas deficiências. É portanto, um mecanismo eficiente de educação e reeducação da práxis, desde que exista uma postura de humildade, compromisso e responsabilidade de ambas as partes.
Mao Tse Tung, ao insistir e explicar esse princípio organizativo, recorda um provérbio chinês: “A água corrente não apodrece e os gonzos das portas não são carcomidos pelos vermes” ‘significa que o movimento constante impede a ação desagregadora dos micróbios e de todos os parasitas. Verificar constantemente o nosso trabalho e, durante esse processo de verificação, desenvolver um estilo democrático, não temer a crítica nem a autocrítica e aplicar essas valiosas máximas populares chinesas que dizem: “Não cales o que sabes nem guardes para ti aquilo que tens a dizer”, “Ninguém tem culpa pelo fato de ter falado, e ao que escuta incumbe tirar todo o proveito disso” e “Se tiveres cometido erros, corrige-os, mas se os não tiveres cometido, guarda-te de vir a cometê-los”, eis a única via eficaz para evitar que a poeira e os micróbios políticos infectem a mente dos militantes e de todo o corpo da nossa organização.
Portanto, a crítica deve estar centrada em expor objetivamente os erros e desvios políticos, de organização e de comportamento. Deve evitar-se o subjetivismo, a arbitrariedade, a observação sem fundamento e a banalização do princípio da crítica e autocrítica. Todas as afirmações devem basear-se em fatos reais e do ponto de vista político, do contrário, perde o sentido e a eficiência.
Qualquer organização, qualquer instância, militante, enfim, qualquer pessoa está sujeito a cometer erros e falhas, afinal, somos humanos. Mas, precisamos errar o menos possível e, quando erramos, devemos corrigir-nos imediatamente e a fundo, pois, a luta mais árdua é aquela que devemos travar contra nós mesmos.
5º) Ir forjando a vivência de novos valores. No lugar dos vícios devemos desenvolver as virtudes. O tempo para a construção do homem novo já começou, pois, este bem como as novas relações sociais nascem e se desenvolvem nas entranhas da velha sociedade. Existe uma luta entre o velho que busca se manter e o novo que busca nascer, durante um bom tempo essas duas realidades coexistem e se disputam, até o ponto de o novo estar desenvolvido e forte o suficiente para suplantar o velho.
Para tanto, precisamos desenvolver intensamente as virtudes, a vivência dos valores humanistas e socialistas (solidariedade, companheirismo, indignação, a atenção à pessoa humana, etc.); precisamos nos remodelar, remodelar as pessoas, desenvolvê-las, pois, aqueles que não progredirem serão superados pelo movimento da história e da organização.
O homem novo começa a existir quando tivermos a capacidade de pensar menos em nós mesmos e pensar e viver pelos outros. O importante é a vida de todos, de nada adianta viver melhor individualmente, se a grande maioria do povo passa enormes necessidades. Nossa vida só tem sentido se estiver em função da vida do povo. Por isso os novos valores são fundamentais para a construção da nova ordem social e a produção de novos seres humanos, com outra roupagem e outra ideologia. Isso não cai do céu, é resultado de um esforço contínuo vivido no dia-a-dia desde as pequenas coisas até as de maior vulto.
6º) Implementar o método de planejamento com divisão de tarefas e responsabilidades. Existem militantes e dirigentes que não possuem tempo para nada. Vivem num ativismo desenfreado, quase sempre nervosos, cansados, impacientes muitas vezes. Reclamam que tudo está sob sua responsabilidade e que os outros não desenvolvem as tarefas de acordo com seu interesse. Acontece que normalmente, o problema não está nos outros, nos militantes; está sim, no estilo de trabalho do dirigente que precisa ser retificado.
E, o planejamento, a divisão de tarefas, de responsabilidades aliviam a tensão, dão mais segurança na condução do processo e, o mais importante, vão formando novos militantes e dirigentes para assumir as novas tarefas que irão surgindo.
Na luta política e, especialmente como militante do MST, nossa vida, nossos atos e planos não dependem somente da nossa vontade, desejos e aspirações. O individual, particular, está em função de um coletivo maior, de uma organização. E, nesse particular, ou a gente milita organizadamente, ou, nós próprios estaremos contribuindo com o espontaneísmo, o personalismo e a anarquia dentre outros vícios.
Fazer um plano qualquer não é tarefa difícil. Mas, elaborar um plano consequente e exequível, requer certas habilidades e procedimentos profissionais, que permitam o avanço da organização e a qualificação de novos militantes.
Planejar é ver mais longe. É analisar e compreender quais os passos (táticas) que devem ser dados para alcançar determinados objetivos. Sempre é necessário olhar para a frente e não apenas para o “umbigo”. Quem olha para frente consegue ir mais longe.
Planejar é definir o que é prioritário e o que é secundário, permitindo a organização e utilização de nossas forças e recursos, para fazer o movimento crescer.
Planejar é dividir tarefas e responsabilidades com outros companheiros. O bom dirigente não é aquele que consegue fazer tudo sozinho. Pelo contrário, é aquele que consegue elaborar planos e empregar os militantes, criando oportunidades para que cresçam e se capacitem politicamente.
Planejar é estabelecer metas concretas, dentro de um espaço de tempo determinado. Com isso, será possível medir os resultados de nossas ações; possibilita avaliar o planejado, já que este tem um prazo para ser executado. Por isso, a avaliação é parte integrante do planejamento e, fundamental, porque permite corrigir possíveis desvios da prática.
O planejamento deve se tornar um hábito de todo o militante. Para tanto, precisamos exercitar, treinar, nos acostumar a ele.
É sempre bom lembrar mais um ensinamento do nosso grande Mestre: “As qualidades fundamentais de um dirigente é elaborar métodos de trabalho e saber colocar os quadros”.
7º) Avançar na prática da disciplina consciente. A história tem demonstrado que sem unidade e disciplina nenhuma organização triunfa; nenhuma batalha é vencida. Todas as organizações estabelecem normas com o intuito de orientar a prática, o comportamento de seus integrantes. Muitos buscam a disciplina cumprindo cegamente essas normas para não serem penalizados, vira algo imposto e cumprido mecanicamente.
A disciplina consciente é ir além do que as normas e leis estabelecidas exigem. É a capacidade de orientar-se por consciência da responsabilidade, por compreender a importância de colocar em prática as decisões, apesar de suas consequências, para alcançar os objetivos propostos.
Ela busca o aperfeiçoamento individual e coletivo, ou seja, “ao fazer a organização o indivíduo faz a sí próprio”. Por isso, a disciplina nunca pode ser um fardo, uma ameaça que persegue o militante. Deve ser encarada como um valor que por intermédio do comportamento diário se transforma numa virtude, passando a ser exemplo a ser seguido, pois, está acima da mera obrigação do cumprimento das normas. Deve se transformar num jeito de ser e viver.
Assim propõe Che: “O jovem comunista deve se propor a ser sempre o primeiro [...] É claro que nem todos podem ser os primeiros, mas podem estar entre os primeiros, no grupo de vanguarda. Ser o exemplo vivo, ser o espelho em que se olham as juventudes ...” Exemplos, em nosso caso, em que se espelham os demais militantes e lideranças de base dos assentamentos e acampamentos e a sociedade de uma forma geral e, através de nosso exemplo, possamos arrastar centenas e milhares de pessoas sem esperança, dando-lhes razão e sentido de vida.
Nesse sentido Bogo também esclarece: “A disciplina é a própria consciência em ação, materializada pelas atitudes individuais daqueles que acreditam em um projeto porque o conhecem e por isso possuem a responsabilidade de convencer quem os rodeia, de que, este é o melhor e mais revolucionário”. Em última instância, a disciplina consciente é uma conquista que precisamos alcançar.
8º) Ser tolerante com os que erram mas, intolerante com o erro. Nisso consiste “tratar a doença para salvar o doente”. Precisamos buscar sempre a coerência com os princípios político–organizativos e de conduta e observar o seu estrito cumprimento.
Muitos militantes ainda não tiveram a oportunidade de assimilar os conhecimentos científicos, de entender o funcionamento de uma organização que busca a transformação da realidade e das pessoas e por isso, cometem erros. Mas, podem se recuperar e corrigirem-se a tempo de não prejudicar a fundo a organização e, melhorando suas práticas podem ser úteis e contribuir para o crescimento da organização.
A questão é que os erros, os desvios não podem passar em branco por causa de afinidades e/ou porque também temos desvios e por isso não cobramos. Erro não pode ser tolerado, deve ser extirpado para que não se repita, por mais insignificante que seja. Agora, devemos ter toda a atenção com os militantes, ajudando, refletindo, analisando e incentivando a correção dos desvios. É um processo pedagógico, formativo que faz as pessoas crescerem.
Cada erro ou desvio superado é um avanço importante na qualificação individual e coletiva da nossa organização, devemos comemorar como uma vitória do novo sobre o velho. Deve receber uma recompensa, um prêmio e, através dessa prática, incentivar a vivência dos novos valores, do desenvolvimento das virtudes que cada carrega dentro de sí, despertando o espírito de “águia” que o meio o transformou em “galinha”, que apenas cisca o chão ao invés de voar rumo à edificação do novo homem e da nova sociedade.
Resulta desse aspecto, a necessidade de estabelecer um sistema de punições (medidas corretivas/educativas) e de emulação (estímulos morais) adequados para a correção dos vícios e desvios que afetam a organização.
9º) Implementar os princípios organizativos, dentre eles, a direção coletiva, o planejamento com divisão de tarefas e responsabilidades, a avaliação, o estudo. Para tanto, é necessário compreendê-los para entender como funcionam e nos vigiar, garantindo a sua implementação – ao fazer uma reunião, coordenar uma assembléia, um setor, uma instância estadual e/ou regional, elaborar um plano de trabalho, etc, para que sejam um modo de agir na organização, pois, o militante não se identifica apenas por aquilo que faz mas, pelo modo como faz a militância na organização. Se não atuarmos de forma organizada, as idéias, propostas, depois do impulso do primeiro momento, vão perdendo importância e eficácia, vão caindo no esquecimento, se perdendo na rotina, vão caindo no conformismo e, acabam sendo apenas mais uma recordação. Por isso, é imperiosa a necessidade de existir uma organização.


Conclusão
Esse foi mais um exercício incompleto. É a sensação que se chega ao ter que interromper, não a reflexão mas, a escrita neste momento. Certamente outros aspectos fazem parte dessa abordagem, tanto em relação aos vício como no que se refere aos mecanismos de superação, inclusive, a partir da experiência de cada militante que pensa e reflete sobre a organização. Por isso, a reflexão e a elaboração devem continuar, no sentido de ir iluminando a prática, para que através dela, possamos elevar o nível organizativo e de qualidade do nosso movimento.
É imperiosa a necessidade e corrigir desvios e vícios que se reproduzem na organização para que esta não mude o rumo. A revolução cultural já está em andamento, precisamos impulsioná-la, ampliá-la como forma de contribuir inclusive, com o processo de revolução política que pretendemos alavancar em nosso país.
Desenvolvamos nossas virtudes, nossas qualidades, nossa autoestima, por vezes reprimidas pela sociedade excludente em que fomos criados; forjemos o novo em cada ação cotidiana ; tenhamos muita esperança no futuro que estamos decididos a construir, pois, “A revolução se faz através do homem, mas o homem tem que forjar dia a dia o seu espírito revolucionário”, nisso consiste a superação de nossos desvios e deficiências, pois, “O caminho é longo e em parte desconhecido: conhecemos nossas limitações. Faremos o homem do século XXI: nós mesmos”, acreditemos e sejamos arquitetos construtores desse novo homem e da sociedade socialista, pois a história nos dará a recompensa.
Sejamos maestros dessa grande orquestra de homens e mulheres que sonham e por isso lutam pela edificação de uma sociedade de homens, mulheres e crianças livres.

(Subsídio preparado para o Curso dos Coordenadores do Programa Nacional de Formação e Multiplicação de Militantes).
Adelar João Pizetta.
Jacareí, setembro de 2000.

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